O debate sobre as fronteiras entre as produções de ficção e de documentário já dura muito mais do que mil dias. Já passamos por momentos onde elas eram consideradas coisas opostas por produtores e pelo público, já tivemos momentos de muita proximidade, mas a nova co-produção entre Cine Group e History Channel mostra um equilíbrio gostoso de se assistir na TV.
A série "Mil Dias - A Saga da Construção de Brasília", dirigida por Fernando Honesko e conta a história da construção da cidade pelo olhar de anônimos. Heitor (Bruno Bellarmino), Mauro (Rodrigo Garcia), Domingos (Paulo Roque) e Gilda (Renata Calmon) são, respectivamente, um topógrafo, um engenheiro, um operário e uma arquiteta.
Nos quatro episódios da série, o espectador viaja pelas histórias dos "anônimos" interpretados por excelentes atores. Suas cenas marcantes são intercaladas por depoimentos de historiadores, pesquisadores e pessoas com profundo conhecimento do que aconteceu durante os mil dias da construção da nossa capital.
O interessante da série é o formato que eles conseguiram dar, onde a atuação não fica piegas entre os depoimentos históricos. Os personagens que aparecem nas cenas dramáticas, onde a câmera é o olhar do espectador invadindo a cena, também dão depoimentos olhando para a câmera. Os personagens também são entrevistados "alguns anos depois" da construção de Brasília e complementam os depoimentos dos historiadores.
Eu que produzo documentários com certa frequência e faço alguns trabalhos como roteirista de ficção fiquei empolgado com a maneira sutil e extremamente televisiva. Trabalho muito interessante das roteiristas Camila Kamimura e Marta Moraes Nehring. O primeiro episódio foi ao ar, o segundo estreia no próximo domingo. Indico demais, são mil dias em quatro episódios que valem a pena.
Para mim, a série é um bom argumento para o que acredito: a aproximação entre ficção e documentário é maravilhosa quando bem executada.
Texto originalmente publicado no LinkedIn, em 26 de abril de 2018, ver mais: https://www.linkedin.com/pulse/mil-dias-ou-onde-document%C3%A1rio-e-fic%C3%A7%C3%A3o-se-encontram-bozzo/